Recursos terapêuticos

Naturologia

Promoção e recuperação da saúde a partir de uma abordagem ampla e complexa, por meio das práticas integrativas e complementares.

Medicina Tradicional Chinesa

Conhecimento de saúde milenar com origem na China, que busca reorganizar o fluxo das substâncias do nosso sistema.

Ayurveda

Ciência e arte de viver! É um conhecimento milenar de saúde que tem origem na Índia.

Fitoterapia

Uso de plantas medicinais, nas suas mais variadas formas, para promover e restabelecer a saúde e também aumentar a vitalidade!

Práticas Contemplativas

Recursos preciosos que potencializam nosso senso de inteireza, pois conectam mente-corpo (e espírito!).

Naturologia

A Naturologia é um conhecimento da área da saúde relativamente recente no Brasil. As primeiras faculdades a formar os bacharéis em Naturologia são do final dos anos 90. Internacionalmente, os cursos de nível superior surgiram algumas décadas antes disso na Europa e Estados Unidos.

Segundo a World Naturopathic Federation (WNF), muitos dos princípios e filosofias da Naturopatia se originaram na Alemanha e na Europa nos séculos XVI e XVII. Os naturopatas antigos de todo o mundo foram treinados por médicos europeus usando hidroterapia, fitoterapia e outras formas tradicionais de cura. Atualmente, a prática da Naturopatia é considerada como um sistema de saúde que evoluiu ao incorporar a medicina tradicional de cada país com os princípios, teorias, modalidades e tradições naturopáticas que foram codificadas nos Estados Unidos, considerado hoje o lar da Naturopatia moderna, ou Medicina Naturopática.

No Brasil, conceituamos a Naturologia como um conhecimento da área da saúde embasado no diálogo entre as ciências humanas, sociais, biológicas e práticas advindas de Sistemas Terapêuticos Vitalistas (ex. Medicinas Tradicionais). As ciências humanas e sociais são uma contribuição importante ao saber naturológico, cuja visão de saúde não se limita aos aspectos orgânicos. Na Naturologia, preconizamos uma abordagem do processo saúde e doença que parta de uma visão ampliada e multidimensional, pois considera as dimensões física, emocional e mental, espiritual, cultural e social, e ainda ambiental. Essa abordagem é sempre centrada na pessoa.

Afinal, o que faz essa profissional?! Naturólogas promovem saúde e vitalidade, e também restabelecem-nas dentro do possível quando há desequilíbrios e doenças. Os recursos terapêuticos utilizados na Naturologia são diversos: plantas medicinais nas suas várias formas, incluindo os óleos essenciais (aromaterapia) e essências vibracionais (sistemas florais); recursos bio-hídricos como banhos e argilas; trabalhos corporais na forma de massagens diversas; práticas contemplativas como meditação e exercícios de respiração (chamados pranayamas no Yoga); e também podem utilizar recursos das racionalidades Ayurveda e Medicina Tradicional Chinesa. Mas estas são apenas as ferramentas, pois é a abordagem ampliada e complexa que diferencia a atuação. A abordagem naturológica parte da promoção de autocuidado e fortalecimento da autonomia, por meio da educação em saúde. Assim, há um entendimento de corresponsabilidade da pessoa frente à sua saúde, qualidade de vida e bem-estar.

A relação terapêutica na Naturologia é chamada de Relação de Interagência, e é um aspecto muito importante do encontro clínico. Esse termo “interagência” se opõe à visão primordialmente passiva (paciente) ou comercial (cliente) da relação; evidencia a interação, reciprocidade, uma atividade compartilhada, ressaltando a troca que envolve duas pessoas ativas. Uma vez que a Naturologia propõe uma abordagem que visa restaurar, manter e promover a saúde por meio da educação em saúde, a Relação de Interagência utiliza-se de reflexões acerca do estilo de vida, em que a naturóloga atua como mediadora utilizando como ferramentas as práticas naturais de saúde.

Referências

Antonio RL. Princípios centrais da Relação de Interagência: uma contribuição para a clínica naturológica. Cadernos de Naturologia e Terapias Complementares, 6(11): 81-91, 2017.

Sabbag SHF, Nogueira BMR, De Callis ALL, Leite-Mor ACMB, Portella CFS, Antonio RL, Placeres F, Rodrigues DMO. Naturologia no Brasil: avanços e desafios. Cadernos de Naturologia e Terapias Complementares, 2(2): 11-31, 2013.

www.worldnaturopathicfederation.org

Medicina Tradicional Chinesa

A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é bastante conhecida no ocidente por causa da Acupuntura, um de seus recursos terapêuticos que tem sido extensivamente investigado cientificamente nas últimas décadas. Acupuntura é o uso de agulhas muito finas (espessura 0,25 milímetros) em pontos específicos do corpo, que atuam regulando o fluxo de substâncias vitais no organismo. Mas este Sistema Terapêutico Vitalista é muito mais do que a Acupuntura, e inclui o uso de plantas medicinais, adequações alimentares e do estilo-de-vida, e outros recursos corporais como massagens, o uso de ventosas, e moxabustão – que é o aquecimento do corpo pela queima da planta artemísia.

Assim como o Ayurveda, a MTC também é um sistema terapêutico “codificado”, cujas bases teóricas estão descritas em livros antigos, e foi inicialmente estruturada no HuangDi NeiJing, ou Clássico Interno do Imperador Amarelo, que data da Dinastia Han (200 A.C.). Quando um livro é escrito, com uma teoria organizada, uma visão própria de saúde e adoecimento, e noções terapêuticas, é provável que o conhecimento já estivesse estruturado muito antes disso, não é mesmo?

A principal influência teórica da MTC é o conceito de Yin e Yang, que remonta ao antigo livro I Ching (700 A.C.). Yin e Yang são duas forças opostas e complementares, que se criam, controlam e transformam mutuamente. Em uma visão geral, Yin se refere ao escuro, sombrio, frio, noite, descanso, enquanto Yang se refere ao claro, luminoso, quente, dia, atividade. No contexto da saúde, essa teoria tem inúmeras implicações. Todas as coisas possuem aspectos Yin e aspectos Yang, que por sua vez podem ser compreendidos novamente em porções Yin e Yang, infinitamente… A temperatura pode ser fria (Yin) ou quente (Yang); o calor pode ser morno (Yin) ou fervente (Yang); e a água fervente pode estar líquida (Yin) ou na forma de vapor (Yang)… Para exemplificar, nosso corpo tem uma estrutura Yin, composta por tecidos, órgãos, sangue e líquidos corporais. Essa estrutura é criada e mantida pela função metabólica Yang, que por sua vez é nutrida e somente ocorre pela existência dos elementos Yin. Ainda, nosso corpo alterna entre funções de relaxamento (Yin) e atividade (Yang). Um resfriado pode ser compreendido como um padrão de frio (Yin), com cansaço, letargia e expectoração abundante, ou de calor (Yang), com febre alta e suor.

Ao longo dos séculos, outras importantes teorias foram organizadas na MTC. Uma delas é a teoria das substâncias fundamentais: Qi (energia-matéria), Xue (sangue), Jing (essência vital), Shen (espírito-consciência) e JinYe (fluídos corporais). Essas substâncias são formadas no corpo pelos órgãos e vísceras (Zang Fu), a partir do alimento que consumimos e do ar que respiramos. São diferentes texturas e componentes que sustentam nosso sistema corporal. A teoria mais recente historicamente que contribui para a prática da MTC é justamente dos órgãos e vísceras (Zang Fu), que formam uma rede de sustentação das atividades humanas. Como coloca Kaptchuk, junto com as substâncias fundamentais, os órgãos e vísceras preservam e transformam, estocam e distribuem, absorvem e eliminam, ascendem e descendem, ativam e acalmam os processos orgânicos.

A MTC é um sistema que se organizou a partir da observação e sistematização de sinais e sintomas, que fornecem uma paisagem do que está acontecendo no nosso organismo, e revelam como Yin, Yang, substâncias fundamentais e órgãos e vísceras (Zang Fu) interagem no processo saúde-doença. Por meio desse olhar, o processo terapêutico é completamente personalizado, e busca restabelecer um fluxo harmônico destes componentes de acordo com a paisagem interna única de cada pessoa.

Referências

Kaptchuk T. The web that has no weaver: understanding Chinese Medicine. Lincolnwood: Contemporary Books, 1947.

Maciocia G. Os fundamentos da Medicina Chinesa: um texto abrangente para acupunturistas e fitoterapeutas. São Paulo: Roca, 1996.

Ayurveda

Talvez você já tenha lido ou ouvido que o Ayurveda é a ciência da vida. Essa definição tem a ver com a etimologia da palavra:

  • ayu – tudo o que está contido entre o nascimento e a morte – ou seja, a vida
  • veda – conhecimento, aprendizado, ciência

Ayurveda é uma ciência indiana milenar de saúde, que entende a vida em sua totalidade. Descreve alimentação, comportamento, cuidados e regulações que beneficiam ou prejudicam a vida, e nos ensina a manter e proteger a saúde física e mental, e principalmente promover longevidade com qualidade de vida.

“O objeto de estudo do Ayurveda é proteger a saúde dos saudáveis e aliviar as desordens na doença” (Charaka Samhita, Sutrasthana, capítulo 30, verso 26)

Em sua origem mitológica, o Ayurveda é um sistema que foi recebido por antigos sábios (rishis), que em meditação suplicaram aos deuses por um alívio às doenças. O deus Indra, rei dos céus, “entregou o Ayurveda aos sábios em poucas palavras”. Os sábios e seus discípulos compreenderam “o infinito Ayurveda própria e completamente num curto período”, e escreveram compêndios e tratados. Então, podemos classificar o Ayurveda como um sistema de saúde “codificado”, o que quer dizer que seus fundamentos teóricos, noções de fisiologia, patologia e tratamento estão descritos em antigos textos, que são a grande referência de estudo. Falar sobre história e datas é sempre complexo, e controverso, mas há um consenso de que os principais e mais antigos livros que temos disponíveis ainda hoje (chamados Charaka Samhita e Sushruta Samhita), foram escritos no primeiro milênio A.C.

Para o Ayurveda, nosso corpo é composto de tridosha (forças bioenergéticas que organizam nosso sistema corporal), tecidos (dhatu) e excreções (mala). A atividade desses elementos requer a força do fogo digestivo, o famoso agni (metabolismo). Quando coordenados, esses componentes promovem o bom funcionamento dos órgãos dos sentidos, que por sua vez levam a um estado mental de frescor, prazer e felicidade.

O que acho mais bonito no Ayurveda, para além das complexas teorias de fisiologia e patologia, é a compreensão da relação entre as pessoas e as coisas do mundo! É pelas escolhas de alimentação e estilo de vida que esse balanço se dá , seja gerando saúde ou desequilíbrios. O Ayurveda olha para as nossas interações com o meio ambiente nas mais diversas condições, considerando idade, estação climática, horários do dia, enfim uma sensível leitura de qual é a nossa necessidade em um dado momento.

Transpondo para a prática clínica, todos estes elementos são considerados no percurso terapêutico – dosha (forças bioenergéticas que organizam a fisiologia); o estado dos tecidos, órgãos e sistemas; o funcionamento digestivo e metabólico; e também a mente e o espírito. Um terapeuta Ayurveda lançará mão de plantas e fórmulas medicinais, massagens e terapias corporais, e também de adequações alimentares e do estilo de vida, para restabelecer e potencializar a saúde.

“Não há nada no universo que não seja medicinal, que não possa ser usado de diversos modos e com vários propósitos” (Ashtanga Hrdaya, Sutrasthana, capítulo 9, verso 10)

Referências

Lad V. Ayurveda the science of self-healing: a practical guide. Delhi: Motilal Banarsidass, 2005.

Astanga Hrdaya – Murthy KRS. Varanasi: Chowkhamba Krishnadas Academy, 2007.

Caraka Samhita – Sharma PV. Varanasi: Chaukhambha Orientalia, 9th edition, 2005.

Fitoterapia

Plantas… seres incríveis que têm sua existência firmada na Natureza. São uma grande parte da nossa representação do que seja a Natureza, não é mesmo? O reino vegetal sustenta a vida no nosso planeta, pois transformam a luz solar em energia química, sendo a base da cadeia alimentar. Relembrar que plantas são seres vivos me traz uma dimensão muito especial ao usá-las como medicamentos!

A relação entre os homens e as plantas é anterior à própria condição humana. Os seres humanos ancestrais, que dependiam da Natureza para sobreviver (alimento, vestimenta, abrigo, ferramentas, produção de cultura…), provavelmente descobriram o uso medicinal de plantas de forma consciente, por meio da observação empírica e experimentação.

Enquanto seres vivos, as plantas também possuem metabolismo – diversas reações químicas a partir de moléculas e compostos. Essas reações garantem a sobrevivência das plantas, seu ciclo de vida, por meio das funções essenciais de fotossíntese e respiração celular – o chamado metabolismo primário. Mas também há o metabolismo secundário, no qual as plantas produzem substâncias para diversas finalidades de interação com o meio ambiente, como proteção contra ataques de patógenos, atração de polinizadores, e mesmo para a competição entre plantas pelos recursos essenciais. Neste metabolismo secundário são produzidos os compostos que conferem às plantas o aspecto medicinal. Alguns exemplos são alcalóides, que possuem ações no nosso Sistema Nervoso; compostos fenólicos, que podem ter ação antioxidante; e terpenos, que conferem odor e sabor às plantas, dentre eles estão os óleos essenciais (compostos voláteis) utilizados com diversas finalidades na Aromaterapia.

São muitas as possibilidades terapêuticas a partir das plantas medicinais! Podem entrar na alimentação, no consumo oral na forma de tintura e extratos, no uso externo como emplastros e cataplasmas, e também na oleação medicinal. Minhas referências no uso de plantas são a fitoterapia ocidental, que muito se baseia em estudos científicos das propriedades das plantas, e também o uso energético, fundamentado nas Medicinas Tradicionais. Estes Sistemas Vitalistas consideram aspectos específicos das plantas, como a energia de aquecer ou esfriar; o movimento que provocam no corpo (por exemplo, descendente facilitando o funcionamento intestinal, ou ascendente desobstruindo a região da cabeça); seus efeitos tônicos e de nutrição, ou purificativos, catabólicos, de limpeza dos tecidos e órgãos; dentre outras possibilidades. As plantas têm um uso muito importante na Saúde Integrativa, pois promovem respostas rápidas do metabolismo e da vitalidade, que complementam o trabalho corporal e de estilo de vida. E são um recurso terapêutico ainda mais interessante quando consideramos suas características únicas, promovendo de fato uma abordagem terapêutica centrada na pessoa e suas necessidades particulares.

Referências

Balick MJ, Cox PA. Plants, people and culture: the science of ethnobothany. New York: Scientific American Library, 1996.

Simões CMO. Farmacognosia: da planta ao medicamento. Florianópolis: UFSC, 2003.

Práticas Contemplativas

O pensamento oriental considera o reconhecimento da impermanência como central para o bem-estar mental e emocional. Mudança e adaptação são constantes: nosso corpo modifica-se inúmeras vezes durante a vida, assim como nossa visão de mundo e como o ambiente externo. Nada é permanente… Essa necessidade de adaptação frente às oscilações internas e externas gera estresse, naturalmente. O estresse é positivo quando temos, e utilizamos, recursos e vitalidade para nos reorganizarmos. Mas o estresse é negativo quando dura mais do que deveria, ou quando acontece numa frequência excessiva – nesses casos, não temos oportunidade de nos reorganizar e redaptar. Uma série de reações envolvendo hormônios e neurotransmissores está relacionada ao estado de estresse, impactando nas dimensões física e metabólica, para além dos aspectos mentais e emocionais. Então nos desorganizamos, seja emocionalmente, com mal-estares vagos, ou até com sintomas físicos bem definidos que caracterizam as doenças, a depender das características individuais e sensibilidades particulares.

O pensamento científico ocidental, desde o grande filósofo René Descartes, dividiu as dimensões da mente e do corpo. Hoje sabemos das diversas conexões entre esses dois grandes pólos, seja via eixos hormonais e nervosos, seja pela relação entre bem-estar, estresse e sistema imune, ou pelas novas descobertas do impacto da microbiota intestinal na cognição humana e vice-versa. Assim, saúde e bem-estar plenos acontecem nos momentos de inteireza e conexão entre as diversas dimensões que compõem nossa vida. E esses momentos podem ser nutridos por práticas de relaxamento, atenção, presença e consciência – as chamadas práticas contemplativas.

Muitos estudos científicos apontam os benefícios das práticas contemplativas, que vão desde a melhora do bem-estar e aumento da imunidade, até benefícios em hipertensão arterial, diversos transtornos psicológicos e dor crônica. Pesquisas de neuroimagem mostram que a prática de meditação altera a estrutura do nosso cérebro, aumentando a massa cinzenta (neurônios e suas conexões).

Os recursos são diversos: exercícios de respiração; de atenção a processos orgânicos ou partes do corpo; de regulação socioemocional por meio de âncoras externas, como objetos, cores, sons, ou internas como sensações de calor, formigamento, expansão ou leveza; e até mesmo práticas mais formais de meditação. Essas práticas são também chamadas de mente-corpo, e conectam não somente essas duas dimensões, mas principalmente restabelecem a noção de inteireza, que muitas vezes perdemos quando nos desorganizamos e/ou adoecemos. As práticas contemplativas têm, ainda, o potencial de nos familiarizar com os processos mentais e emocionais e, assim, aumentar nossa resiliência, nossos recursos internos de vitalidade.

O mais interessante é que todas podemos utilizar estas práticas, o que vale é experimentar e descobrir a que mais se encaixa com nosso momento! Não importa o processo e saúde, somos íntegras, inteiras, temos o potencial de ter e sentir momentos de conexão com as pessoas, o ambiente e a vida! E isso é verdadeiramente curativo.

Referências

Kabat-Zinn J. Viver a catástrofe total: como utilizar a sabedoria do corpo e da mente para enfrentar o estresse, a dor e a doença. São Paulo: Palas Athena, 2017.