Recursos terapêuticos
Naturologia
Promove a saúde e a vitalidade por meio de uma abordagem integral e complexa, aliando práticas integrativas e complementares.
Medicina Tradicional Chinesa
Sabedoria milenar da China que reorganiza o fluxo vital, harmonizando as energias e substâncias do nosso organismo.
Ayurveda
Ciência e arte de viver, um conhecimento milenar da Índia que integra saúde, equilíbrio e bem-estar.
Naturologia
A Naturologia é um saber da área da saúde que, embora relativamente recente no Brasil – com os primeiros cursos de bacharelado surgindo no final dos anos 90 – possui raízes profundas e internacionais. Em países da Europa e dos Estados Unidos, os cursos de nível superior foram desenvolvidos algumas décadas antes daqui.
Segundo a World Naturopathic Federation (WNF), muitos dos princípios e filosofias da Naturopatia originaram-se na Alemanha e na Europa, nos séculos XVI e XVII. Os naturopatas dos tempos antigos foram treinados por médicos europeus, utilizando recursos como hidroterapia, fitoterapia e outras formas tradicionais de cura. Hoje, a prática evoluiu ao incorporar as medicinas tradicionais de diferentes culturas com os princípios e modalidades que foram codificados nos Estados Unidos – hoje considerado o lar da Naturopatia moderna ou Medicina Naturopática.
No Brasil, a Naturologia é entendida como um conhecimento da saúde que se desenvolve a partir do diálogo entre as ciências humanas, sociais e biológicas, integrando também práticas oriundas de Sistemas Terapêuticos Vitalistas (como as Medicinas Tradicionais). Essa abordagem não se limita aos aspectos orgânicos; ela abrange dimensões física, emocional, mental, espiritual, cultural, social e ambiental – sempre com o foco na pessoa como um todo.
A naturóloga promove saúde e vitalidade, atuando para restaurá-las quando há desequilíbrios ou doenças. Os recursos terapêuticos são diversos e incluem:
- Plantas medicinais em suas várias formas, como óleos essenciais (aromaterapia) e essências vibracionais (sistemas florais);
- Recursos bio-hídricos, como banhos e argilas;
- Trabalhos corporais por meio de diversas massagens;
- Práticas contemplativas – como meditação e exercícios de respiração (pranayamas no Yoga) –
- E ainda recursos das racionalidades do Ayurveda e da Medicina Tradicional Chinesa.
Mas o que realmente diferencia essa prática é a abordagem ampliada, que parte da promoção do autocuidado e do fortalecimento da autonomia por meio da educação em saúde. Essa visão pressupõe uma corresponsabilidade na manutenção da qualidade de vida e do bem-estar.
A relação terapêutica na Naturologia, chamada de Relação de Interagência, se opõe à visão tradicionalmente passiva (de “paciente”) ou comercial (de “cliente”). Essa relação destaca a interação, a reciprocidade e a atividade compartilhada entre duas pessoas, onde a naturóloga atua como mediadora e orientadora das práticas naturais de saúde.
Referências
Antonio RL. Princípios centrais da Relação de Interagência: uma contribuição para a clínica naturológica. Cadernos de Naturologia e Terapias Complementares, 6(11): 81-91, 2017.
Sabbag SHF, Nogueira BMR, De Callis ALL, Leite-Mor ACMB, Portella CFS, Antonio RL, Placeres F, Rodrigues DMO. Naturologia no Brasil: avanços e desafios. Cadernos de Naturologia e Terapias Complementares, 2(2): 11-31, 2013.
www.worldnaturopathicfederation.org

Medicina Tradicional Chinesa
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é amplamente reconhecida no ocidente, sobretudo pela acupuntura – que utiliza agulhas finíssimas (cerca de 0,25 mm) aplicadas em pontos estratégicos para regular o fluxo de substâncias vitais no organismo. Contudo, a MTC vai muito além da acupuntura, abrangendo o uso de plantas medicinais, adequações alimentares e de estilo de vida, além de outros recursos corporais, como massagens, ventosas e a moxabustão (aquecimento do corpo pela queima de artemísia).
Semelhante ao Ayurveda, a MTC é um sistema terapêutico “codificado”, cujas bases teóricas estão registradas em textos antigos – como o Huang Di Nei Jing (Clássico Interno do Imperador Amarelo), originado na Dinastia Han (cerca de 200 a.C.). Esse legado sugere que o conhecimento já estava estruturado há muito tempo, mesmo antes da escrita desses compêndios.
O conceito de Yin e Yang, com raízes no antigo I Ching (700 a.C.), é a principal influência teórica da MTC. Yin e Yang representam forças opostas e complementares: enquanto Yin se associa ao escuro, frio, repouso e noite, Yang está ligado ao claro, quente, atividade e dia. Essa dualidade se manifesta em todas as coisas – inclusive no corpo humano, que possui uma estrutura predominantemente Yin (tecidos, órgãos, sangue e líquidos), sustentada pela função metabólica Yang. O equilíbrio entre essas energias reflete o estado de saúde e pode ser observado, por exemplo, na alternância entre relaxamento e atividade.
Além disso, a MTC organiza outras teorias fundamentais, como a das substâncias vitais: Qi (energia-matéria), Xue (Sangue), Jing (Essência vital), Shen (Mente-Espírito) e Jin Ye (Fluídos Corporais). Esses elementos, formados pelos órgãos e vísceras (Zang Fu) a partir do alimento e do ar que absorvemos, compõem uma rede complexa que preserva, transforma, estoca e distribui a energia no organismo, regulando os processos vitais.
A abordagem terapêutica da MTC é, portanto, personalizada e busca restabelecer o fluxo harmônico entre Yin, Yang, as substâncias vitais e os órgãos, de acordo com a paisagem interna única de cada pessoa.
Referências
Kaptchuk T. The web that has no weaver: understanding Chinese Medicine. Lincolnwood: Contemporary Books, 1947.
Maciocia G. Os fundamentos da Medicina Chinesa: um texto abrangente para acupunturistas e fitoterapeutas. São Paulo: Roca, 1996.

Ayurveda
Conhecida como a “ciência da vida”, o Ayurveda tem sua etimologia enraizada em dois termos:
- ayu – tudo o que existe entre o nascimento e a morte, ou seja, a vida;
- veda – conhecimento, aprendizado, ciência.
Essa milenar ciência indiana de saúde compreende a vida em sua totalidade, abordando alimentação, comportamento, cuidados e regulações que podem beneficiar ou prejudicar o organismo. O Ayurveda ensina como manter e proteger a saúde física e mental, promovendo longevidade com qualidade de vida.
“O objeto de estudo do Ayurveda é proteger a saúde dos saudáveis e aliviar as desordens na doença” (Charaka Samhita, Sutrasthana, capítulo 30, verso 26)
Segundo a tradição, o Ayurveda foi revelado a antigos sábios (rishis) durante momentos de profunda meditação, quando suplicaram aos deuses por alívio das enfermidades. Diz-se que o deus Indra, rei dos céus, transmitiu esse conhecimento em poucas palavras, permitindo que os sábios, em pouco tempo, compreendessem a vastidão do Ayurveda e registrassem seus ensinamentos em compêndios. Assim, o Ayurveda se configura como um sistema de saúde “codificado”, cujos fundamentos – desde noções de fisiologia e patologia até os métodos terapêuticos – estão consignados em textos antigos, como o Charaka Samhita e o Sushruta Samhita, datados do primeiro milênio A.C.
No entendimento ayurvédico, o corpo é constituído de tridosha (forças bioenergéticas que organizam o organismo), tecidos (dhatu) e excreções (mala). A coordenação desses elementos depende da força do fogo digestivo, o agni (metabolismo). Quando em equilíbrio, promovem o bom funcionamento dos órgãos dos sentidos, resultando num estado mental de frescor, prazer e felicidade.
O que torna o Ayurveda especialmente belo é sua visão da vida como uma rede de relações entre as pessoas e o mundo. É por meio das escolhas alimentares e do estilo de vida que se estabelece o equilíbrio – ou o desequilíbrio – do organismo, considerando fatores como idade, estação do ano e horários do dia. Na prática clínica, todos esses elementos são integrados no percurso terapêutico. A terapeuta ayurvédica utiliza plantas e fórmulas medicinais, massagens e terapias corporais, além de orientações sobre alimentação e estilo de vida, para restaurar e potencializar a saúde.
“Não há nada no universo que não seja medicinal, que não possa ser usado de diversos modos e com vários propósitos” (Ashtanga Hrdaya, Sutrasthana, capítulo 9, verso 10)
Referências
Lad V. Ayurveda the science of self-healing: a practical guide. Delhi: Motilal Banarsidass, 2005.
Astanga Hrdaya – Murthy KRS. Varanasi: Chowkhamba Krishnadas Academy, 2007.
Caraka Samhita – Sharma PV. Varanasi: Chaukhambha Orientalia, 9th edition, 2005.

Fitoterapia
Plantas… esses seres incríveis que têm sua existência firmada na Natureza. Elas convertem a luz solar em energia química, sustentando a vida e formando a base da cadeia alimentar. Reconhecer que as plantas são seres vivos enriquece a prática de utilizá-las como medicamentos, conferindo uma dimensão especial a esse recurso.
A relação entre os seres humanos e as plantas é ancestral – anterior à própria condição humana. Nossos ancestrais, dependentes da Natureza para alimentação, vestimenta, abrigo, ferramentas e cultura, descobriram de forma consciente o uso medicinal das plantas através da observação e da experimentação.
Como seres vivos, as plantas possuem metabolismo. O metabolismo primário engloba as reações essenciais à sua sobrevivência – como a fotossíntese e a respiração celular – enquanto o metabolismo secundário produz substâncias que desempenham funções específicas, como a proteção contra patógenos, atração de polinizadores ou competição pelos recursos. São esses compostos – como alcalóides (com ação sobre o sistema nervoso), compostos fenólicos (com potencial antioxidante) e terpenos (responsáveis pelo odor e sabor, além de constituírem os óleos essenciais usados na aromaterapia) – que conferem às plantas seu valor medicinal.
As possibilidades terapêuticas da fitoterapia são amplas. Os extratos e tinturas podem ser utilizados na alimentação, os emplastros e cataplasmas atuam externamente, e a oleação medicinal oferece outras abordagens. Minhas referências incluem tanto a fitoterapia ocidental – fundamentada em estudos científicos das propriedades das plantas – quanto o uso energético, embasado nas tradições das Medicinas Tradicionais. Esses Sistemas Vitalistas consideram aspectos como:
- A energia de aquecer ou esfriar;
- O movimento que as plantas provocam no corpo (por exemplo, uma ação descendente que facilita o funcionamento intestinal ou uma ação ascendente que desobstrui a região da cabeça);
- Seus efeitos tônicos, nutritivos, purificadores e catabólicos, que auxiliam na limpeza dos tecidos e órgãos.
No Percurso Terapêutico, as plantas desempenham um papel fundamental ao promover respostas rápidas no metabolismo e na vitalidade, complementando intervenções corporais e de estilo de vida. Elas constituem um recurso terapêutico singular, capaz de oferecer uma abordagem verdadeiramente centrada na pessoa e em suas necessidades específicas.
Referências
Balick MJ, Cox PA. Plants, people and culture: the science of ethnobothany. New York: Scientific American Library, 1996.
Simões CMO. Farmacognosia: da planta ao medicamento. Florianópolis: UFSC, 2003.

Práticas Corporais
O corpo está em constante transformação – a cada respiração, a cada movimento, ele se renova, assim como nossa percepção do mundo. Reconhecer essa impermanência é fundamental para o equilíbrio e a vitalidade. Em meio às mudanças internas e externas, estresse e desequilíbrios surgem naturalmente. Podemos nos regenerar quando acionamos nossos recursos internos.
A visão ocidental, que historicamente separou mente e corpo, não comporta a complexidade da nossa experiência. Hoje, sabemos que saúde plena se manifesta na integração entre os aspectos físicos, emocionais e mentais (e mais!) – é nesse encontro que nos tornamos inteiras. As práticas corporais nos convidam a habitar o próprio corpo, a estarmos presentes em cada sensação, a ouvir o que ele nos diz e a encontrar a âncora no aqui e agora.
Diversos estudos demonstram que, ao prestarmos atenção consciente às sensações corporais – seja por meio de exercícios de respiração, movimentos suaves, ou técnicas que ampliam a percepção do corpo – conseguimos regular o estresse, fortalecer o sistema imune e restaurar o equilíbrio físico e emocional. Essas práticas promovem uma reorganização natural, que vai além do simples relaxamento: elas resgatam a nossa sabedoria interna.
Os recursos são variados: exercícios que convidam à respiração consciente; movimentos de atenção às sensações – como calor, formigamento, leveza ou expansão –; e técnicas que auxiliam na regulação das emoções através do corpo. Convites para redescobrir a intimidade e a força que residem em cada parte de nós.
O mais belo é que todas podemos explorar essas práticas de acordo com nosso momento. Ao habitar o corpo, resgatamos a noção de inteireza e nos abrimos para viver com mais vitalidade, bem-estar e autenticidade. Afinal, quando nos conectamos profundamente com nosso corpo, permitimos que ele nos guie para uma vida verdadeiramente curativa.
Referências
Kabat-Zinn J. Viver a catástrofe total: como utilizar a sabedoria do corpo e da mente para enfrentar o estresse, a dor e a doença. São Paulo: Palas Athena, 2017.
